O CLÁSSICO E O NOVO

A passagem da modernidade para os tempos atuais trouxeram muitas marcas e influencias em nosso modo de pensar e ser. Entretanto, há ainda muitas controvérsias se vivemos a chamada pós-modernidade ou a hipermodernidade. O que se sabe é que a revolução tecnológica, a fluidez da comunicação, globalização ofereceram outro modo de interação social. No mundo contemporâneo as relações são perpassadas pelo predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a ideia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Estamos diante de um mundo virtual, imagem, som e texto em uma velocidade instantânea¹.

As organizações são espaços vivos formados pelas interações sociais e humanas perpassadas pelas influencias do modo de pensar a vida, o homem, o trabalho, a sociedade, de acordo com cada época. Esse modo de pensar muitas vezes chamados de Zeitgeist², ou Paradigma³.

Atualmente, a cultura capitalista da obsolescência tende a repassar ao trabalhador a lógica da descartabilidade dos produtos. Aqueles que “não acompanham” o novo tempo muitas vezes são vistos com descrédito, como se não tivessem mais valor. De outro modo, as vezes atitudes inovadoras e criativas são percebidas como uma ameaça.

É muito comum observarmos conflitos interpessoais advindos dos diferentes modos de pensar entre as diversas gerações que fazem parte das organizações. As pessoas a partir do seu tempo, da época em que foram educadas e formadas recebem modelos de pensamentos para conceber a vida e é natural que ao conviverem encontrem conflitos advindos dessas divergências. O livro a Corrosão do Caráter de Richard Senett4 descreve bem esses impasses ao relatar o modo de conduzir a vida, o trabalho e as relações com a comunidade entre pai e filho, problematizando como o paradigma de uma época impacta gerações de uma mesma família.

Com base no exposto, esse texto é um convite para a reflexão sobre como uma cultura organizacional fomenta a convivência saudável entre as diferenças e provoca saídas criativas para os impasses e novas demandas que o mundo contemporâneo nos impõe, sem, contudo, desconsiderar as tradições.

Para isso faremos referencia a obra de Max Richter4 e o documentário que discorre sobre sua trajetória para recompor a obra as 4 estações de Vivaldi, obra clássica e de grande aceitação do publico. A ideia de Max é colocar em “um quadro clássico de uma obra-prima, uma nova moldura”. Seus dois grandes princípios ao desenvolver esse trabalho era não denegrir ou desqualificar esse importante clássico, sem, contudo, perder a motivação de recria-lo.

Os críticos consideraram o resultado excelente5, pois viram que Max obedeceu a uma lógica diferente, mas que o entrelaçamento entre sua percepção e a própria obra de Vivaldi geraram uma cor fascinante e ambígua. Max Richter é às vezes ele mesmo e às vezes Vivaldi numa mistura que se faz como um presente aos ouvidos e mentes que acostumados com aquilo que já conhecem são diversas vezes surpreendidos por uma perspectiva inovadora.

Esta experiência poderia servir como uma inspiração para a saída dos dilemas organizacionais ocasionados pelos conflitos entre o clássico e o novo. Pois o clássico enquanto tradição carrega a historia, a memória e a base de um conhecimento sobre as coisas e a inovação funciona enquanto recomposição dessa base para fazer frente às demandas de um novo mundo. Ambos têm sua devida importância e possuem uma especial interdependência que se forem devidamente reconhecidas e respeitadas poderão ofertar importantes frutos. Assim a história da organização, do mundo e da sociedade é a base da compreensão e da fundação do novo. Portanto, saídas criativas e inovadoras demandadas na contemporaneidade nascem numa perspectiva de ampliação, não de ruptura. Sem o clássico, o novo não possui base de constituição e nem mesmo de subversão. Basta pensar esse fenômeno na perspectiva de uma espiral.

Em mundo pós-moderno o ideal Ordem e Progresso positivista já não se sustenta na medida em que o futuro nem sempre nos reservou o progresso ou mesmo esse progresso não se apresenta como algo sustentável. Aonde a razão também é posta na berlinda, pois a vida é percebida como sistemas, desde os corpos humanos ao universo e outros aspectos como a emoção são considerados para compreendermos os fenômenos. Assim, nessa perspectiva da complexidade, não há novo e não há o velho, há apenas partes em interação que conformam um todo e são essas inter-relações que fazem desse sistema algo promissor ou decadente. Não há verdades absolutas. Nem sobre o clássico e nem sobre o novo. Nem mesmo sobre a criação destes conceitos.

1-http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/geografia/o-conceito-posmodernidade-na-sociedade-atual.htm

2-https://www.significados.com.br/zeitgeist/

3-https://www.significados.com.br/paradigma/

4- https://www.youtube.com/watch?v=g3fOVDTg9pU

5-https://en.wikipedia.org/wiki/Recomposed_by_Max_Richter:_Vivaldi_-_The_Four_Seasons

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